A estória do personagem Batman há tempos vem me contagiando em escrever a respeito.
Começou
este meu interesse a partir do contato que tive com um dos meus primeiros
pacientes que acreditava puramente sê-lo em certa etapa do seu desenvolvimento.
A
partir disso ao concluir o processo de análise presenteei- o com uma devolutiva
baseada neste filme. Para criar tal devolutiva tive de fazer uma busca apurada
para entender o lado psicológico deste grande personagem que permeia entre
várias gerações atingindo com sua incrível força o poder de atenção.
Nessa
minha busca incessante lembro que tive como fonte para entender toda problemática
do enredo de Batman o artigo “A jornada do herói na
trajetória de Batman - Hero journey in Batman trajectory” de Luísa de Oliveira,
que farei referências neste presente escrito.
Sempre
que vejo Batman, lembro que este herói traz uma grande inspiração do que chama- se na
Psicologia de Resiliência.
O
conceito de resiliência fica bem explicitado quando falamos sobre superação:
“A resiliência é um conceito psicológico emprestado da física, definido como a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse etc. - sem entrar em surto psicológico. No entanto, Job (2003), que estudou a resiliência em organizações, argumenta que a resiliência se trata de uma tomada de decisão quando alguém depara com um contexto entre a tensão do ambiente e a vontade de vencer. Essas decisões propiciam forças na pessoa para enfrentar a adversidade. Assim entendido, pode-se considerar que a resiliência é uma combinação de fatores que propiciam ao ser humano condições para enfrentar e superar problemas e adversidades.”(Wikipedi a partir de Job, FPP)
Para quem
não conhece muito a estória e seus ínterins, Bruce (nome verdadeiro do codinome
Batman) quando pequeno caiu em um
buraco que estava povoado por morcegos. Apesar de gritar pedindo socorro, só foram
descobrir que o garoto encontrava-se neste lugar, no dia seguinte.
Quando
saiu de lá, seu pai o abraça e consola dizendo que os morcegos não fazem mal se
não fizer a eles também.
Mesmo
tendo ainda certo receio (com morcegos), quando adulto recorda-se do acontecido
e faz do seu medo seu grande instrumento de redescoberta.
A
história de Batman sofre modificações ao longo de suas passagens. Como que em
meados de 1939- 1960 são revelados ao público a morte dos pais do pequeno
Bruce, com então 10 anos de vida.
Wayne refugia-se
a em uma caverna a fim de repensar sobre si e sobre os valores expostos a esta
realidade cruel que lhe é mostrada. Suas referências familiares já não se
encontram presentes, apenas em memória.
Esta
morte trágica faz nascer no menino um grande sentimento de justiça, após todo o
processo de luto.
Dentro do
artigo já exposto acima, o simbolismo da caverna que o menino morcego esconde-
se é revelada como uma analogia ao
ventre da baleia, que em alguns mitos mostra- se como sendo signo de renascimento e iniciação. Tal por ser uma área então desconhecida, sombria, onde
percorre o mistério.
A entrada na caverna pode ser analisada de maneira
que pode ser um caminho para dentro, um modo e um momento de introspecção com o
intuito de retornar às origens e ao centro do que lhe causa certo significado,
ou se não, a busca por eles (significados).
Quando Bruce após um tempo recoberto de valores de
justiça e apaziguado de certa maneira do sofrimento, vê uma possibilidade ao
sair desta caverna com todas possíveis significações, em um momento de
regeneração e um novo nascimento.
Ao sair da caverna sente- se regenerado e pronto
para uma nova etapa de sua vida.
Busca então outro símbolo desta mudança, vindo com o
intuito de vingar-se do passado que não foi bom, mas com outra identidade.
Pensa então em uma máscara, algo que não o nomeie como Bruce Wayne.
Em certa cena da estória, o rapaz está em sua sala
quando adentra um morcego que o faz recordar do seu antigo medo pueril. Logo
encontra um símbolo perfeito do seu “novo eu”: ser o Homem Morcego.
Há dentro
da Psicologia Analítica e em outras áreas que se interessam em estudar os simbolismos
que a caverna representa, tal como uma gruta, além da representação do mamífero
morcego retrata que tais significam
sobre aqueles que vivem na escuridão, locais os que desejam refugiar- se do
mundo diurno.
O morcego
dependurado de cabeça para baixo representa também uma criatura de um mundo que
funciona às avessas do nosso. Um marginal da sociedade, alguém que não vive de
cabeça em pé e que prefere as trevas e a escuridão ao invés da luz.
Conta o
artigo de Luísa de Oliveira que na Idade Média, as asas de morcego simbolizavam
o demônio fazendo um contraste com as já conhecidas asas dos anjos. Logo Batman
seria visto por este ponto de vista: um demônio do bem ou da escuridão, e os símbolos
que Bruce busca para seu alterego
sejam remetidos aos significados dos seus traumas e temores do passado.
Um dos
itens mais interessantes da trilogia Batman é que o personagem consegue ao
mesmo tempo vingar-se de seu passado e aliar um carisma com a população de
Gotham City. Ele permeia tanto o universo dos bandidos quanto os da população
daquela cidade. Sendo de valiosa ajuda para a paz da cidade contra a violência urbana.
Mesmo
após ter saído da caverna, seja com todos os seus símbolos e sua forma literal,
o homem morcego por vezes relembra o trauma que sofreu e o quanto este é
recorrente em sua vida. Toda vez lembrada do motivo por sua modificação, isto
faz com que um sentimento imenso de justiça.
A cada
batalha vencida, o homem resgata aquele garotinho indefeso que foi abandonado
pelo destino quando seus pais faleceram.
Suas
atividades justiceiras que o faz um super- herói decorre do momento vivenciado
pelas perdas.
O mais
interessante a observar é que Batman reconhece sua parte humanamente frágil,
apesar de ser considerado um super- herói.
Torna-se
bem explícito na estória divulgada entre 1970 e 1980 a aproximação de Batman
com a mulher gato.
Segundo
algumas possibilidades dentro de toda estória de Batman, a Mulher gato teria
após o suicídio de sua mãe ter vivido em um orfanato. A rebeldia ao seu destino
fez com que aos 13 anos fugisse da instituição e é neste momento que ao
adentrar a perigosa estadia nas ruas aprende “o ofício” de ladra.
O gato
por si só já se faz signo de profunda ambivalência: o bem e o mal unidos em um
só animal. No Egito Antigo, este animal era venerado como a deusa Bastet simbolizava a proteção ao homem.
Ligada às artes, era também requisitada em assuntos como gravidez, amor,
alegria e o prazer pela vida. Certo tempo depois na história os gatos mudaram
de significação remetendo então a poderes demoníacos e ao feminino. Tal
atribuição foi introduzida pela crença de que algumas bruxas na idade média
usavam os corpos de gatos para introduzir suas almas, em especial os gatos negros. Desde então os gatos vem
sendo ligado ao símbolo do feminino instintivo e destrutivo.
Como já
falado, os gatos estão relacionados a símbolos ambivalentes. Acreditam- se que
este seria um mediador entre o bem e o mal, e um canal entre as esferas humanas e divinas. Por tal o gato foi visto
com signo da consciência por ter essa
capacidade de mesclar valores de conflito.
Explico
tal, pois em certo curso da trilogia Batman, a Mulher Gato torna-se seu grande
amor pela explicação simbólica talvez de que o gato e o morcego se unem.
Vejo que
a paixão que o homem morcego guarda pela mulher gato seria um encontro às suas
origens maléficas e seu lado da não justiça, costumeiro de um ser humano
(tentar equilibrar-se entre o bem e o mal).
Em 1990-
2000 o Coringa ganha destaque na trama. Este representa o oposto do homem
morcego, sendo ele escancarado, impulsivo, desorganizado e musical, o que
difere do primeiro sendo ele racional, controlado e não barulhento.
Na visão do tarô, Coringa seria encarado como a
carta do Louco. Louco e fora do jogo, já que esta representa a marginalização, pois
o louco não obedece as regras sociais.
Coringa
tem uma função importantíssima de dissipação da figura do Batman, já que o
segundo faz uso da tentativa de equilíbrio enquanto Coringa faz da vida um
eterno descontrole.
Além
de coringa, outros personagens desta trama trazem símbolos interessantes de análise,
tal como o mordomo Alfred que tem a função dentro da estória de cuidar das
feridas de Batman e fazer relembrá-lo de sua natureza cheia de limitações
puramente humanas.
O
comissário Gordon faz de Batman obter informações de possíveis maneiras de
ajudar a sociedade, é nele que deposita suas informações.
Outro
personagem que Batman retribui grande amizade é Robin que encara como sendo um
dos seus, podendo ser comparado pelo passado parecido de Bruce: tornou-se discípulo
de Batman após a morte de seus pais que foram assassinados por Duas Caras.
O
que viso explicitar aqui é que se analisarmos do ponto de vista da resiliência,
da superação, vemos que a trilogia Batman não se enquadra somente em um filme
de aventuras para a diversão do público em geral, mas sim resgatar dentro de símbolos
básicos a resiliência, o poder de superação dos medos e a transformação de
traumas em atitudes benéficas ao outro.
Ao
invés do ressentimento percebemos nos personagens que há diversas maneiras de lidar
com as circuntâncias que a vida nos impõe seja para o bem (Batman, Robin) seja
para o mal (Coringa, Mulher gato).
Fica
a dica de hoje de como saber lidar com as questões que a vida nos oferece! Observar
e entender que por mais que não sejamos livres em escolhermos certos acontecimentos
da vida, o poder de como nos situamos frente a estas questões. Com isso é o que
nos faz melhores ou piores.
Decidir
como nos sentimos e reagirmos de maneira que os traumas do passado não
interfiram no bem que possamos fazer para o mundo.
Somos gotas, mas é de gota em gota que o mar se torna
grandioso!
“Sei que o meu trabalho é uma gota no oceano, mas sem ele, o oceano seria menor.” (Madre Teresa de Calcutá)
cara ... depois de ter lido isso tudo, acho que também sou o batman :(
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