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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O Morrer




Umas das poucas certezas da vida é a Morte. Tanto a nossa quanto a de pessoas queridas.

Apesar desta certeza nos dói quando alguém que gostamos se vai.

Quando perdemos alguém choramos e com isso muitas das vezes surge certo pensamento de que somos fracos. Não! Nada mais natural chorar e encarar uma readaptação da falta desse alguém tão querido.

Algumas etapas deste luto, desta perda poderão vir à tona seja em forma de negação, seja em forma de crises de choro. Outros sentimentos podem emergir como o medo, a raiva, a culpa e posteriormente a aceitação.

Como lidamos perante a morte é algo subjetivo, ou seja, cada um sente de uma maneira. Mas acima de tudo devemos andar lado a lado com a verdade sempre! Tanto para nós quanto para outrem.

Muitas vezes quando morre algum adulto próximo, a família omite à criança sua morte pensando assim poupá-la. Em outras, os adultos por não saber lidar com a situação trabalha a mente da criança contando fábulas como “ele/ ela virou estrela” e por aí vai.

É necessário explicar para criança a verdade, que a pessoa querida morreu, e se possível levá-la ao ritual de despedida ao lado de alguém que esteja mais estável emocionalmente explicando o que ocorre.

O que é igual tanto para o adulto quanto para a criança é que devem vivenciar o real, enfrentar a concretização desta perda, não criando ilusões acerca do acontecimento.

Quanto mais presente a vivência da verdade, menor tempo será o luto.

Outros lutos também podem ser vivenciados. A morte não representa somente a perda da vida do corpo, mas também o fim de um relacionamento, entre outros tantos tipos de morte.

Ao redor da pessoa que sofreu uma perda é necessária a conscientização de que ela precisa extravasar tal sofrimento, seja em forma de conversa, seja na forma de choro ou qualquer outra externalização deste sofrer. Quanto mais a pessoa repreender o sofrimento mais tempo demorará em elaborar o luto.

Erroneamente pensamos que quando a pessoa não chora ela está conseguindo “encarar” a perda fortemente ou da melhor forma. Muito se engana quem pensa como tal. Pode ocorrer uma aparente aceitação, mas o que observa- se em clínica é que muitas pessoas nos (psicólogos) procuram quando não conseguem lidar com a situação da perda porque não conseguem chorar, pôr para fora tantos sentimentos que ficaram sedimentados pela aparente fortaleza, ou para “segurar” familiares e/ ou amigos mais sensibilizados com a situação.

Não só neste comportamento de negar ou reprimir o luto, observamos também a elaboração da perda em outra circunstância da vida com outras diferentes pessoas e situações, fazendo com que sentimentos reprimidos sejam deslocados em outro tempo e com outras pessoas.

Exemplo: Maria perdeu seu filho quando esse completava 6 meses de vida. Em seu funeral pouco aparentou tristeza e choro, bem como nos meses decorrentes. Após o fim de seu casamento tentou suicídio. Não aguentou a perda do marido.

Normalmente, quando nega- se a morte de alguém a pessoa que nega terá em algum momento de sua vida “enterrar” aquele sentimento antes mascarado por diversos fatores que somente com algum tempo de terapia ou passar por outros processos inerentes à vida, a pessoa terá acesso desta explicação.

Aliados da pessoa que perde deverão vigiar certas atitudes pós-morte de alguém próximo. Se observar que a pessoa não está lidando “bem” com o processo poderá buscar ajuda psicológica. Em casos mais específicos de trauma, a ajuda de um médico se faz eficaz.

Algumas religiões orientam que não se pode chorar pelo morto, mas sabemos pensando psicologicamente, que é necessário o choro e qualquer externalização deste sofrimento que é duro para todos!

O tempo é outro fator preponderante para a solução do luto. Permitir que a pessoa que perdeu vivenciar seu próprio tempo não estipulando limite para tal. Então, se a pessoa que sofre se nega a se desfazer de pertences do falecido, deixe, pois é necessário para aquela pessoa como singularidade não se desfazer naquele momento dos objetos da pessoa amada que se foi.

A culpa sendo uma das etapas do luto pode surgir de maneira explícita como “não deveria ter brigado com ele da ultima vez que o vi”. Lembro que tais rumores não se fazem necessário, já que toda relação há contratempos e todo envolvimento humano poderá ocorrer desentendimentos por algum conflito.

A morte é um processo inevitável e somente o grandioso poder da Vida poderá escolher tal momento. Nós seres humanos somos pequeninos diante da sabedoria da Vida. Devemos estar preparados para lidar com situações inevitáveis, ficando fortalecidos conosco a partir da filosofia de Vida de cada um.

A melhor maneira (ou a menos pior) para lidar com a morte, seja a fim de um relacionamento ou seja a morte propriamente dita (a física) é relembrar momentos bons em que esteve com a pessoa e o quanto ela lhe fui útil para passar uma mensagem diferente em sua vida.

Perdoe qualquer desentendimento por parte do morto ou do seu por ele. Perdoar-se é o primeiro passo para o perdão do outro.

Faça as passes com o passado e pense num futuro pleno, não esquecendo que o presente merece atenção, pois é nele que temos acesso da modificação de algo que não está fluindo bem ou pensar na melhoria de algo que está sendo bom.

Sugestão de leitura:

  • Sobre a morte e o morrer (Elisabeth Kubler-Ross) 
  • Escritos sobre a guerra e a morte (Sigmund Freud) 
  • Além do Princípio do prazer – Obras completas Vol. 18 (Sigmund Freud)

Coluna no Portal Educação

Minha matéria sobre o Kurt Cobain foi divulgada no Portal Educação e agora sou uma colunista de lá! http://www.portaleducacao.com.br/psicologia/artigos/14182/kurt-cobain-pequeno-esboco-de-seu-possivel-quadro-borderline/pagina-1

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Batman: O anjo de asas negras





A estória do personagem Batman há tempos vem me contagiando em escrever a respeito.
Começou este meu interesse a partir do contato que tive com um dos meus primeiros pacientes que acreditava puramente sê-lo em certa etapa do seu desenvolvimento.
A partir disso ao concluir o processo de análise presenteei- o com uma devolutiva baseada neste filme. Para criar tal devolutiva tive de fazer uma busca apurada para entender o lado psicológico deste grande personagem que permeia entre várias gerações atingindo com sua incrível força o poder de atenção.
Nessa minha busca incessante lembro que tive como fonte para entender toda problemática do enredo de Batman o artigo “A jornada do herói na trajetória de Batman - Hero journey in Batman trajectory” de Luísa de Oliveira, que farei referências neste presente escrito.
Sempre que vejo Batman, lembro que este herói traz  uma grande inspiração do que chama- se na Psicologia de Resiliência.
O conceito de resiliência fica bem explicitado quando falamos sobre superação:
 “A resiliência é um conceito psicológico emprestado da física, definido como a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse etc. - sem entrar em surto psicológico. No entanto, Job (2003), que estudou a resiliência em organizações, argumenta que a resiliência se trata de uma tomada de decisão quando alguém depara com um contexto entre a tensão do ambiente e a vontade de vencer. Essas decisões propiciam forças na pessoa para enfrentar a adversidade. Assim entendido, pode-se considerar que a resiliência é uma combinação de fatores que propiciam ao ser humano condições para enfrentar e superar problemas e adversidades.(Wikipedi a partir de Job, FPP)
Para quem não conhece muito a estória e seus ínterins, Bruce (nome verdadeiro do codinome Batman) quando pequeno caiu em um buraco que estava povoado por morcegos. Apesar de gritar pedindo socorro, só foram descobrir que o garoto encontrava-se neste lugar, no dia seguinte.
Quando saiu de lá, seu pai o abraça e consola dizendo que os morcegos não fazem mal se não fizer a eles também.
Mesmo tendo ainda certo receio (com morcegos), quando adulto recorda-se do acontecido e faz do seu medo seu grande instrumento de redescoberta.
A história de Batman sofre modificações ao longo de suas passagens. Como que em meados de 1939- 1960 são revelados ao público a morte dos pais do pequeno Bruce, com então 10 anos de vida.
Wayne refugia-se a em uma caverna a fim de repensar sobre si e sobre os valores expostos a esta realidade cruel que lhe é mostrada. Suas referências familiares já não se encontram presentes, apenas em memória.
Esta morte trágica faz nascer no menino um grande sentimento de justiça, após todo o processo de luto.
Dentro do artigo já exposto acima, o simbolismo da caverna que o menino morcego esconde- se é revelada como uma analogia ao ventre da baleia, que em alguns mitos mostra- se como sendo signo de renascimento e iniciação. Tal por ser uma área então desconhecida, sombria, onde percorre o mistério.
A entrada na caverna pode ser analisada de maneira que pode ser um caminho para dentro, um modo e um momento de introspecção com o intuito de retornar às origens e ao centro do que lhe causa certo significado, ou se não, a busca por eles (significados).
Quando Bruce após um tempo recoberto de valores de justiça e apaziguado de certa maneira do sofrimento, vê uma possibilidade ao sair desta caverna com todas possíveis significações, em um momento de regeneração e um novo nascimento.
Ao sair da caverna sente- se regenerado e pronto para uma nova etapa de sua vida.
Busca então outro símbolo desta mudança, vindo com o intuito de vingar-se do passado que não foi bom, mas com outra identidade. Pensa então em uma máscara, algo que não o nomeie como Bruce Wayne.
Em certa cena da estória, o rapaz está em sua sala quando adentra um morcego que o faz recordar do seu antigo medo pueril. Logo encontra um símbolo perfeito do seu “novo eu”: ser o Homem Morcego.
Há dentro da Psicologia Analítica e em outras áreas que se interessam em estudar os simbolismos que a caverna representa, tal como uma gruta, além da representação do mamífero morcego retrata que tais significam sobre aqueles que vivem na escuridão, locais os que desejam refugiar- se do mundo diurno.
O morcego dependurado de cabeça para baixo representa também uma criatura de um mundo que funciona às avessas do nosso. Um marginal da sociedade, alguém que não vive de cabeça em pé e que prefere as trevas e a escuridão ao invés da luz.
Conta o artigo de Luísa de Oliveira que na Idade Média, as asas de morcego simbolizavam o demônio fazendo um contraste com as já conhecidas asas dos anjos. Logo Batman seria visto por este ponto de vista: um demônio do bem ou da escuridão, e os símbolos que Bruce busca para seu alterego sejam remetidos aos significados dos seus traumas e temores do passado.
Um dos itens mais interessantes da trilogia Batman é que o personagem consegue ao mesmo tempo vingar-se de seu passado e aliar um carisma com a população de Gotham City. Ele permeia tanto o universo dos bandidos quanto os da população daquela cidade. Sendo de valiosa ajuda para a paz da cidade contra a violência urbana.
Mesmo após ter saído da caverna, seja com todos os seus símbolos e sua forma literal, o homem morcego por vezes relembra o trauma que sofreu e o quanto este é recorrente em sua vida. Toda vez lembrada do motivo por sua modificação, isto faz com que um sentimento imenso de justiça.
A cada batalha vencida, o homem resgata aquele garotinho indefeso que foi abandonado pelo destino quando seus pais faleceram.
Suas atividades justiceiras que o faz um super- herói decorre do momento vivenciado pelas perdas.
O mais interessante a observar é que Batman reconhece sua parte humanamente frágil, apesar de ser considerado um super- herói.
Torna-se bem explícito na estória divulgada entre 1970 e 1980 a aproximação de Batman com a mulher gato.
Segundo algumas possibilidades dentro de toda estória de Batman, a Mulher gato teria após o suicídio de sua mãe ter vivido em um orfanato. A rebeldia ao seu destino fez com que aos 13 anos fugisse da instituição e é neste momento que ao adentrar a perigosa estadia nas ruas aprende “o ofício” de ladra.
O gato por si só já se faz signo de profunda ambivalência: o bem e o mal unidos em um só animal. No Egito Antigo, este animal era venerado como a deusa Bastet simbolizava a proteção ao homem. Ligada às artes, era também requisitada em assuntos como gravidez, amor, alegria e o prazer pela vida. Certo tempo depois na história os gatos mudaram de significação remetendo então a poderes demoníacos e ao feminino. Tal atribuição foi introduzida pela crença de que algumas bruxas na idade média usavam os corpos de gatos para introduzir suas almas, em especial os gatos negros. Desde então os gatos vem sendo ligado ao símbolo do feminino instintivo e destrutivo.
Como já falado, os gatos estão relacionados a símbolos ambivalentes. Acreditam- se que este seria um mediador entre o bem e o mal, e um canal entre as esferas humanas e divinas. Por tal o gato foi visto com signo da consciência por ter essa capacidade de mesclar valores de conflito.
Explico tal, pois em certo curso da trilogia Batman, a Mulher Gato torna-se seu grande amor pela explicação simbólica talvez de que o gato e o morcego se unem.
Vejo que a paixão que o homem morcego guarda pela mulher gato seria um encontro às suas origens maléficas e seu lado da não justiça, costumeiro de um ser humano (tentar equilibrar-se entre o bem e o mal).
Em 1990- 2000 o Coringa ganha destaque na trama. Este representa o oposto do homem morcego, sendo ele escancarado, impulsivo, desorganizado e musical, o que difere do primeiro sendo ele racional, controlado e não barulhento.
Na visão do tarô, Coringa seria encarado como a carta do Louco. Louco e fora do jogo, já que esta representa a marginalização, pois o louco não obedece as regras sociais.
Coringa tem uma função importantíssima de dissipação da figura do Batman, já que o segundo faz uso da tentativa de equilíbrio enquanto Coringa faz da vida um eterno descontrole.
Além de coringa, outros personagens desta trama trazem símbolos interessantes de análise, tal como o mordomo Alfred que tem a função dentro da estória de cuidar das feridas de Batman e fazer relembrá-lo de sua natureza cheia de limitações puramente humanas.
O comissário Gordon faz de Batman obter informações de possíveis maneiras de ajudar a sociedade, é nele que deposita suas informações.
Outro personagem que Batman retribui grande amizade é Robin que encara como sendo um dos seus, podendo ser comparado pelo passado parecido de Bruce: tornou-se discípulo de Batman após a morte de seus pais que foram assassinados por Duas Caras.
O que viso explicitar aqui é que se analisarmos do ponto de vista da resiliência, da superação, vemos que a trilogia Batman não se enquadra somente em um filme de aventuras para a diversão do público em geral, mas sim resgatar dentro de símbolos básicos a resiliência, o poder de superação dos medos e a transformação de traumas em atitudes benéficas ao outro.  
Ao invés do ressentimento percebemos nos personagens que há diversas maneiras de lidar com as circuntâncias que a vida nos impõe seja para o bem (Batman, Robin) seja para o mal (Coringa, Mulher gato).
Fica a dica de hoje de como saber lidar com as questões que a vida nos oferece! Observar e entender que por mais que não sejamos livres em escolhermos certos acontecimentos da vida, o poder de como nos situamos frente a estas questões. Com isso é o que nos faz melhores ou piores.
Decidir como nos sentimos e reagirmos de maneira que os traumas do passado não interfiram no bem que possamos fazer para o mundo.
Somos gotas, mas é de gota em gota que o mar se torna grandioso!


 “Sei que o meu trabalho é uma gota no oceano, mas sem ele, o oceano seria menor.” (Madre Teresa de Calcutá)


Referências:

- Site Google

-  Bol. psicol v.57 n.127 São Paulo dez. 2007 A jornada do herói na trajetória de Batman Hero journey in Batman trajectory Luísa de Oliveira* Núcleo de Estudos Junguianos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo