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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Como lidar com o Transtorno de Conduta: Novas perspectivas




Diagnóstico

O transtorno de conduta é uma espécie de personalidade antissocial na juventude. Como a personalidade não está completa, antes dos dezoito anos não se pode dar o diagnóstico de personalidade patológica para menores, mas a correspondência que existe entre a personalidade antissocial e o transtorno de conduta é muito próxima. Basicamente consiste numa série de comportamentos que perturbam quem está próximo, com atividades perigosas e até mesmo ilegais. Tais jovens e crianças não se importam com os sentimentos dos outros nem apresentam sofrimento psíquico por atos moralmente reprováveis. Assim o comportamento desses pacientes apresenta maior impacto nos outros do que nos próprios.

Certos comportamentos como mentir ou matar aula podem ocorrer em qualquer criança sem que isso signifique desvios do comportamento, contudo a partir de certos limites pode significar. Para se diferenciar o comportamento desviante do normal é necessário verificar a presença de outras características e comportamentos desviantes, a permanência deles ao longo do tempo. Além das circunstâncias em que o comportamento se dá as companhias, o ambiente familiar, os valores e exemplos que são transmitidos devem ser avaliados para o diagnóstico. 

Curso

Tem sido observada uma tendência a se tratar de um problema duradouro que inicia na infância podendo chegar à idade adulta. Como é um transtorno relativamente novo não se pode afirmar cientificamente que durará a vida toda. Por enquanto tem se verificado que quanto mais precoce o início, maior a gravidade e tendência a durar ao longo da vida. Os sintomas vão dos mais leves como mentiras, falta às aulas até os mais graves como agressões físicas ou abuso de drogas. O desinteresse escolar e o próprio comportamento desviante levam ao fracasso acadêmico, tornando o futuro dessas crianças ou adolescentes mais limitado. O encontro com outras pessoas com o mesmo perfil pode ocasionar na formação de gangues, o que significa um primeiro passo na direção de atividades ilegais em grupo. Nesse caso as companhias podem precipitar as atividades delinquentes.


O ambiente escolar tanto pode incentivar como inibir, dependendo de suas características. Constata-se que uma boa escola faz diferença para a educação e formação dos adolescentes e crianças. Igualmente o suporte familiar e o envolvimento afetivo. A identificação com uma pessoa de boa índole tanto pode atenuar o comportamento como precipitar e aprofundar um comportamento patológico quando o parceiro afetivo age nesse sentido.

Um ciclo vicioso entre gerações é observado no ambiente antissocial do transtorno de conduta. Filhos de pais antissociais tendem a ser antissociais que por sua vez tendem a educar filhos antissociais perpetuando o ciclo. Não há evidências suficientes para se afirmar que esse problema seja mais genético do que ambiental, ou o contrário. Os estudo mostram influência genética, mas isso apenas não é suficiente para fazer surgir o transtorno de conduta.

Fatores associados ao comportamento antissocial

Na juventude- Historicamente, foi com o estabelecimento de clínicas vinculadas ao juizado de menores que profissionais de saúde mental puderam observar o desenvolvimento do comportamento antissocial na infância e adolescência. Ao constatar-se a grande frequência de problemas familiares e sociais na história de vida dos delinquentes juvenis, formulou-se a hipótese de uma reação às adversidades encontradas tanto no ambiente familiar como na comunidade. 

O jovem experimenta um impulso de busca do objeto, de alguém que possa encarregar-se de cuidar dele, esperando poder confiar num ambiente estável, capaz de suportar a tensão resultante do comportamento impulsivo. O ambiente é repetidamente testado em sua capacidade para suportar a agressão, tolerar o incômodo, impedir a destruição, preservando o objeto que é procurado e encontrado.

Na infância- Ser do sexo masculino, receber cuidados maternos e paternos inadequados, viver em meio à discórdia conjugal, ser criado por pais agressivos e violentos, ter mãe com problemas de saúde mental, residir em áreas urbanas e ter nível socioeconômico baixo.

Alguns autores referem que a baixa renda associada ao comportamento antissocial da criança está relacionada à personalidade antissocial materna e à negligência por parte dos pais. De fato, pode-se supor que mães antissociais teriam maior dificuldade para atingir níveis de renda mais elevados, pois não se manteriam no emprego e teriam menor condição de manter um relacionamento estável com um marido ou companheiro que contribuísse com a renda familiar. Pais antissociais também são frequentemente irresponsáveis e negligentes com seus filhos, deixando de alimentá-los adequadamente ou levá-los ao médico quando doentes. Além disso, adolescentes vivendo na pobreza e pouco valorizados pelos pais podem buscar reconhecimento pessoal e ascensão econômica através de atividades delinquenciais grupais.
Quanto ao ambiente familiar agressivo e violento, não se pode deixar de mencionar a influência da violência doméstica e do abuso físico sobre o comportamento antissocial na infância.

Fatores genéticos e neurofisiológicos também podem estar envolvidos no desenvolvimento do comportamento antissocial. Estudiosos relatam que a taxa de criminalidade nos pais biológicos é maior que nos pais adotivos de indivíduos com antecedentes criminais. A influência genética é mais evidente nos casos acompanhados de hiperatividade e pode ser responsável pela maior vulnerabilidade do indivíduo aos eventos de vida e ao estresse.

Finalmente, há indícios de diferenças nos fatores de risco para o comportamento antissocial segundo o sexo do indivíduo. Em levantamento populacional realizado no Canadá, envolvendo 1.651 indivíduos com 16 a 24 anos, verificou-se que além da presença de comportamentos antissociais antes dos 15 anos, outros fatores foram considerados de risco para comportamento antissocial na adolescência e início da vida adulta. Para os homens, foi fator de risco o fato de ter convivido na infância com pais com problemas de saúde mental (depressão, mania, episódios psicóticos), enquanto para as mulheres, destacaram-se o abuso sexual na infância e o fato de ter sido criada por pais com comportamento antissocial ou abuso de álcool/drogas.


Comorbidade

As crianças e adolescentes com transtorno de conduta apresentam também mais do que outras pessoas na mesma faixa etária, incidência de transtornos mentais. O mais frequente é o déficit de atenção com hiperatividade, estando presente em aproximadamente 43% dos casos, os transtornos de ansiedade e obsessivo-compulsivos em 33% dos casos. O abuso de substâncias psicoativas também é mais elevado dentre os adolescentes com transtorno de conduta.

Tratamento

Os tratamentos citados na literatura não apresentam respostas satisfatórias, mas alguma melhora do comportamento é possível de ser obtida com uma intervenção em diferentes áreas. A psicoterapia individual usa de medicação para os sintomas mais proeminentes, psicoterapia familiar, orientação de pais, treinamento dos envolvidos no trato direto como os professores. Abordagens isoladas como psicoterapia individual dificilmente surtirão algum benefício. Atividades extracurriculares podem ter grandes benefícios como natação e musicalidade. O jogo de Xadrez pode ser muito bem desempenhado no caso de crianças/ adolescentes com transtorno de conduta, pois estimula a consciência do limite necessário para a convivência dentro da sociedade, além do raciocínio.





Reserva de diferencial teórico

Boa parte da literatura quando tratados sobre os transtornos de conduta e antissociais vem regados de declarações como falta de sentimentos, ou sentimentos hostis para o mundo externo. No diagnóstico de algum transtorno antissocial ou algum outro quadro acompanhado de alguns sintomas da não socialização ou socialização patológica (antissocial), nem sempre esses indivíduos mantém sentimentos e / ou atitudes hostis, eles podem sentir o contrário da hostilidade (que nem sempre o amor), mas algo que assemelha a sentimentos bons e fraternos. O universo de seus sentimentos é controverso e seu funcionamento é ambíguo. 
Temos como exemplo o caso de Elize Matsunaga envolvida na morte de seu marido Marcos Kitano Matsunaga no caso “Yoki”, acusada de matar seu marido. Elize mantinha sentimentos pela filha e preocupação com a mesma. 

Não estranhem que tais pessoas exclamem fortes sentimentos de amor, cumplicidade por algo ou alguém, eles podem ser verdadeiros, mas virem acompanhados também de atitudes contrárias ou deslocadas para alguma outra área específica. 

Um exemplo é de um empresário que dentro de uma empresa mostra ser um grande líder, autoritário e não ter piedade de ninguém, mas que em casa e em seu casamente demonstra ser atencioso e marido cúmplice.
O mais plausível em casos antissociais e em outros quadros de transtornos mentais é encarar o sujeito como sendo único, apesar de seu comprometimento psíquico, e sua subjetividade dentro de seu tratamento, entendendo que cada ser humano é único e merece respeito pela sociedade, além de ter o direito da responsabilidade do tratamento da sua própria cura. Outra atitude importante é analisar a situação como um todo, não descartando as diversas possibilidades e complexidades do ser humano (tal se faz a importância de uma análise em consultório). Não devemos esquecer que cada indivíduo é único tanto na dor quanto no amor.

Conclusão

Comportamentos antissociais são frequentemente observados no período da adolescência como sintomas isolados e transitórios. Porém, estes podem surgir precocemente na infância e persistir ao longo da vida, constituindo quadros psiquiátricos de difícil tratamento. Fatores individuais, familiares e sociais estão implicados no desenvolvimento e na persistência do comportamento antissocial, interagindo de forma complexa e ainda pouco esclarecida. Como o comportamento antissocial torna-se mais estável e menos modificável ao longo do tempo,30 crianças e adolescentes com transtorno da conduta precisam ser identificados o mais cedo possível para que tenham maior oportunidade de beneficiar-se de intervenções terapêuticas e ações preventivas. O tratamento mais efetivo envolve a combinação de diferentes condutas junto à criança/adolescente, à família e à escola. Quando não é possível o acesso a intervenções complementares, o profissional de saúde mental deve identificar a conduta terapêutica prioritária em cada caso específico.

Fontes que auxiliaram a pesquisa:
http://www.psicosite.com.br/tra/inf/conduta.htm
http://www.scielo.br/scielo.

Revisão: Jaqueline Cristina.