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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

A Bela e a Fera sob a perspectiva psicológica da Co- Dependência



Todos nós crescemos com grandes personagens dos contos infantis. Seja qual for a cultura todos eles permeiam nosso desenvolvimento enquanto seres humanos dotados de inteligência. Quem nunca assistiu ou ouviu a estória de uma fera que se apaixona por uma linda donzela?
        
Apanhados do  conto “A Bela e a Fera”
Desde nova Bela passou por grandes decepções na vida, como a morte prematura de sua mãe. Após tal acontecimento foi educada por seu pai e conviveu com ele e suas três irmãs.
No desenrolar do conto percebemos que Bela foi usada para submeter-se ao estilo egoísta e exigente das irmãs. A moça se mostra tão complacente que até mesmo o pai tiraria proveito dela em certas ocasiões, o que fica bastante evidente quando ao roubar uma rosa do jardim da Fera, o pai invés de cumprir alguma “pena” pelo roubo, oferece uma de suas filhas, e no caso, Bela quem se oferece. Rapidamente o pai aceita em vez de entregar- se.
Quando estão em convívio, o relacionamento de Bela com a Fera parece uma “montanha- russa sendo conflituosa e traumática. Poder-se-ia que ao se mudar para o castelo da Fera, esse começou a oferecer à “esposa” tarefas domésticas sendo grande crítico dos afazeres da moça espezinhando –a, além de a jovem ter de presenciar seus acessos de fúria.
Como ela cresceu tão acostumada a tratamentos tão mesquinhos mantinha- se submissa, onde qualquer comportamento oferecido com o mínimo de carinho possível alegrava- se. Esquecia-se dos comportamentos agressivos e tudo o que ela passou realizando- se com singelas demonstrações de carinho.
Esta é uma das características do que chamamos na Psicologia de Co- Dependência.
Exemplo do quando este quadro é grave ilustramos dentro do conto infantil que quando a Fera permitiu Bela sair do castelo para visitar seu pai adoentado. A sorte da menina foi que quando a Fera permitiu este ato, descobriu que dentro de uma armadura havia também um coração, e soube que poderia doar amor ao invés de “farpas”. Quando a personagem volta ao ccastelo da Fera percebe-o modificado.
Após este momento, Bela de igual para igual com a Fera tornou-se confiante depositada de uma auto- estima cada vez maior sendo assim assertiva.
Mas observo que este pensamento e atitudes que Bela identifica no marido, a Fera, já era de se esperar, pois na situação de Co- dependente, qualquer atitude de amor é de grande valia colocando qualquer pessoa (que não seja ela, em primeiro lugar). Suma é a importância que tem as pessoas na vida dela.
A linda moça ao receber a visita das irmãs no castelo que vivia fica dividida entre a presença delas e o desamor da Fera para com as hóspedes. Com esta indecisão, a moça sente-se ansiosa e deprimida, pois vê na realidade que não poderá sempre agradar a todos.
Analisando de maneira atenta, constamos que as necessidades de Bela não foram atendidas em nenhum de seus relacionamentos significativos. O grau de responsabilidade que sentia em relação ao pai, e agora em relação ao marido é pouco saudável, mas ela parece estar emocionalmente paralisada, incapaz de mudar o seu comportamento.

A Co- dependência
Os Co- dependentes quase sempre são criados em famílias disfuncionais, onde absorvem métodos desaptativos de enfrentamento, que depois se transformam em padrões de relacionamento em sua vida adulta.
Apesar de colocar as necessidades dos outros antes das suas, estas pessoas confundem costumeiramente a vigilância compulsiva com compaixão. Constantemente estabelecem relacionamentos com viciados ou pessoas de alguma maneira desajustados e ficam tentando “consertar” o companheiro.
Os Co- dependentes são conhecidos como facilitadores porque eles podem facilitar um parceiro alcoólatra a continuar bebendo. E ironicamente, pode acontecer, no momento em que o parceiro “desajustado” abandonar seu comportamento disfuncional, o co- dependente ache difícil administrar a própria vida, tal é o seu empenho em viver a vida do outro. Com a grande doação de si e a dedicação depositada em alguém esquecem- se da própria vida.
Os co- dependentes confundem pena com amor e por isso mantém relacionamentos abusivos, já que temem que o parceiro não vá o sobreviver sem eles. Em sua cabeça interpretam o cuidado dado como atos generosos. Sua dedicação é tamanha que comprometem as próprias necessidades, sentimentos, e integridade para evitar a raiva ou a rejeição, deixando que o outro faça dele o que quiser. Um sentimento de controle surge em cena fazendo com que o co- dependente usa a vigilância afim de controlar seus parceiros.
O co- dependente normalmente alimenta a crença que se “consertar” a pessoa estimada, esse ficará dominado pelo amor e pela gratidão e que agindo assim o parceiro nunca irá abandoná- lo.
O abandono é maior medo da maioria dos co- dependentes. Preferem manter um relacionamento patológico a arriscar-se mesmo que o afastamento do parceiro resultasse em uma estabilidade emocional maior em longo prazo.

O tratamento
A Co- dependência  é um comportamento adquirido/  aprendido. Na maioria dos casos para o indivíduo recuperar-se faz- se necessário romper o relacionamento patológico para curar-se.
No caso de Bela, se aceitar a proposta de um tratamento seria prudente que vivesse temporariamente afastada da Fera internando-se em um centro de tratamento, ou se não, seguir os passos do Co- dependentes Anônimos participando de alguns encontros.
É na infância que o comportamento co- dependente é desenvolvido, onde estes indivíduos apresentam um alto nível de tolerância a comportamentos patológicos, agressivos e inapropriados. Pessoas que cresceram com a desorganização ou maus-tratos em suas famílias sentem-se familiarizados com estes tipos de “maus-tratos” a si, fazendo com que na “adultice” percebam relacionamentos saudáveis como aversivos à sua criação, à sua natureza, enfim e ao seu mundo.
Dificilmente buscam tratamento, pois para eles tais círculos e padrões de relacionamento aparentam normais para ele.
Caso desejem o tratamento correto e recebam o apoio adequado é possível que os co-dependentes desenvolvam relacionamentos saudáveis e parcerias que lhe causem prazer, e não submissão.
Abaixo são descritos sinais costumeiros vistos em Co- dependetes. Verifique se você ou alguém próximo se enquadra:
  • Considerar-se e sentir-se responsável por outra(s) pessoas(s) – pelos sentimentos, pensamentos, ações, escolhas, desejos, necessidades, bem-estar, falta de bem-estar e até pelo destino dessa(s) pessoa(s).
  • Sentir ansiedade, pena e culpa quando a outra pessoa tem um problema.
  • Sentir-se compelido – quase forçado – a ajudar aquela pessoa a resolver o problema, seja dando conselhos que não foram pedidos, oferecendo uma série de sugestões ou equilibrando emoções.
  • Ter raiva quando sua ajuda não é eficiente.
  • Comprometer-se demais.
  • Culpar outras pessoas pela situação em que ele mesmo está.
  • Dizer que outras pessoas fazem com que se sinta da maneira que se sente.
  • Achar que a outra pessoa o está levando à loucura.
  • Sentir raiva, sentir- se vítima, achar que está sendo usado e que não senta sendo apreciado.
  • Achar que não é bom o bastante.
  • Contentar-se apenas em ser necessário a outros.
A busca pela ajuda psicológica é um caminho e o primeiro passo para o desenvolvimento pessoal. Dificilmente um co- dependente conseguirá cessar os sintomas sem uma ajuda.
Os efeitos dos comportamentos de co- dependência são danosos, e ainda mais o sofrimento que a pessoa dependente sofre. É necessária uma busca por si e adentrar na profundidade dos sentimentos para depois ter as rédeas das situações. O co- dependente que não busca ajuda continuará a cometer os mesmo erros trazendo para o seu viver grande empobrecimento existencial.

Sugestão para leitura:  "Co-dependência nunca mais" de Melody Beattie.