Todos
nós crescemos com grandes personagens dos contos infantis. Seja qual for a
cultura todos eles permeiam nosso desenvolvimento enquanto seres humanos
dotados de inteligência. Quem nunca assistiu ou ouviu a estória de uma fera que
se apaixona por uma linda donzela?
Apanhados do
conto “A Bela e a Fera”
Desde
nova Bela passou por grandes decepções na vida, como a morte prematura de sua
mãe. Após tal acontecimento foi educada por seu pai e conviveu com ele e suas
três irmãs.
No
desenrolar do conto percebemos que Bela foi usada para submeter-se ao estilo
egoísta e exigente das irmãs. A moça se mostra tão complacente que até mesmo o
pai tiraria proveito dela em certas ocasiões, o que fica bastante evidente
quando ao roubar uma rosa do jardim da Fera, o pai invés de cumprir alguma “pena”
pelo roubo, oferece uma de suas filhas, e no caso, Bela quem se oferece.
Rapidamente o pai aceita em vez de entregar- se.
Quando
estão em convívio, o relacionamento de Bela com a Fera parece uma “montanha-
russa” sendo conflituosa e
traumática. Poder-se-ia que ao se mudar para o castelo da Fera, esse começou a
oferecer à “esposa” tarefas domésticas sendo grande crítico dos afazeres da
moça espezinhando –a,
além de a jovem ter de presenciar seus acessos de fúria.
Como
ela cresceu tão acostumada a tratamentos tão mesquinhos mantinha- se submissa, onde qualquer
comportamento oferecido com o mínimo de carinho possível alegrava- se. Esquecia-se
dos comportamentos agressivos e tudo o que ela passou realizando- se com
singelas demonstrações de carinho.
Esta
é uma das características do que chamamos na Psicologia de Co- Dependência.
Exemplo
do quando este quadro é grave ilustramos dentro do conto infantil que quando a Fera
permitiu Bela sair do castelo para visitar seu pai adoentado. A sorte da menina
foi que quando a Fera permitiu este ato, descobriu que dentro de uma armadura
havia também um coração, e soube que poderia doar amor ao invés de “farpas”.
Quando a personagem volta ao ccastelo da Fera percebe-o modificado.
Após
este momento, Bela de igual para igual com a Fera tornou-se confiante
depositada de uma auto- estima cada vez maior sendo assim assertiva.
Mas
observo que este pensamento e atitudes que Bela identifica no marido, a Fera,
já era de se esperar, pois na situação de Co- dependente, qualquer atitude de
amor é de grande valia colocando qualquer pessoa (que não seja ela, em primeiro
lugar). Suma é a importância que tem as pessoas na vida dela.
A
linda moça ao receber a visita das irmãs no castelo que vivia fica dividida
entre a presença delas e o desamor da Fera para com as hóspedes. Com esta
indecisão, a moça sente-se ansiosa e deprimida, pois vê na realidade que não
poderá sempre agradar a todos.
Analisando
de maneira atenta, constamos que as necessidades de Bela não foram atendidas em
nenhum de seus relacionamentos significativos. O grau de responsabilidade que
sentia em relação ao pai, e agora em relação ao marido é pouco saudável, mas
ela parece estar emocionalmente paralisada, incapaz de mudar o seu
comportamento.
A Co- dependência
Os
Co- dependentes quase sempre são
criados em famílias disfuncionais, onde absorvem
métodos desaptativos de enfrentamento, que depois se transformam em padrões de relacionamento em sua vida
adulta.
Apesar
de colocar as necessidades dos outros antes das suas, estas pessoas confundem
costumeiramente a vigilância compulsiva com compaixão. Constantemente estabelecem
relacionamentos com viciados ou pessoas de alguma maneira desajustados e ficam
tentando “consertar” o companheiro.
Os
Co- dependentes são conhecidos como facilitadores
porque eles podem facilitar um parceiro alcoólatra a continuar bebendo. E ironicamente,
pode acontecer, no momento em que o parceiro “desajustado” abandonar seu comportamento
disfuncional, o co- dependente ache difícil administrar a própria vida, tal é o
seu empenho em viver a vida do outro.
Com a grande doação de si e a dedicação depositada em alguém esquecem- se da
própria vida.
Os
co- dependentes confundem pena com amor e por isso mantém relacionamentos
abusivos, já que temem que o parceiro não vá o sobreviver sem eles. Em sua
cabeça interpretam o cuidado dado como atos generosos. Sua dedicação é tamanha
que comprometem as próprias necessidades,
sentimentos, e integridade para evitar a raiva ou a rejeição, deixando que o
outro faça dele o que quiser. Um sentimento de controle surge em cena fazendo
com que o co- dependente usa a vigilância afim de controlar seus parceiros.
O
co- dependente normalmente alimenta a crença que se “consertar” a pessoa
estimada, esse ficará dominado pelo amor e pela gratidão e que agindo assim o
parceiro nunca irá abandoná- lo.
O
abandono é maior medo da maioria dos co-
dependentes. Preferem manter um relacionamento patológico a arriscar-se
mesmo que o afastamento do parceiro resultasse em uma estabilidade emocional
maior em longo prazo.
O tratamento
A
Co- dependência é um comportamento
adquirido/ aprendido. Na maioria dos
casos para o indivíduo recuperar-se faz- se necessário romper o relacionamento
patológico para curar-se.
No
caso de Bela, se aceitar a proposta de um tratamento seria prudente que vivesse
temporariamente afastada da Fera internando-se em um centro de tratamento, ou
se não, seguir os passos do Co-
dependentes Anônimos participando de alguns encontros.
É
na infância que o comportamento co- dependente é desenvolvido, onde estes
indivíduos apresentam um alto nível de tolerância a comportamentos patológicos,
agressivos e inapropriados. Pessoas que cresceram com a desorganização ou
maus-tratos em suas famílias sentem-se familiarizados com estes tipos de
“maus-tratos” a si, fazendo com que na “adultice”
percebam relacionamentos saudáveis como aversivos à sua criação, à sua
natureza, enfim e ao seu mundo.
Dificilmente
buscam tratamento, pois para eles tais círculos e padrões de relacionamento
aparentam normais para ele.
Caso
desejem o tratamento correto e recebam o apoio adequado é possível que os
co-dependentes desenvolvam relacionamentos saudáveis e parcerias que lhe causem
prazer, e não submissão.
Abaixo são descritos sinais costumeiros
vistos em Co- dependetes. Verifique se você ou alguém próximo se enquadra:
- Considerar-se e sentir-se responsável por outra(s) pessoas(s) – pelos sentimentos, pensamentos, ações, escolhas, desejos, necessidades, bem-estar, falta de bem-estar e até pelo destino dessa(s) pessoa(s).
- Sentir ansiedade, pena e culpa quando a outra pessoa tem um problema.
- Sentir-se compelido – quase forçado – a ajudar aquela pessoa a resolver o problema, seja dando conselhos que não foram pedidos, oferecendo uma série de sugestões ou equilibrando emoções.
- Ter raiva quando sua ajuda não é eficiente.
- Comprometer-se demais.
- Culpar outras pessoas pela situação em que ele mesmo está.
- Dizer que outras pessoas fazem com que se sinta da maneira que se sente.
- Achar que a outra pessoa o está levando à loucura.
- Sentir raiva, sentir- se vítima, achar que está sendo usado e que não senta sendo apreciado.
- Achar que não é bom o bastante.
- Contentar-se apenas em ser necessário a outros.
A busca pela ajuda psicológica é
um caminho e o primeiro passo para o desenvolvimento
pessoal. Dificilmente um co- dependente conseguirá cessar os sintomas sem
uma ajuda.
Os efeitos dos comportamentos de
co- dependência são danosos, e ainda mais o sofrimento que a pessoa dependente
sofre. É necessária uma busca por si e adentrar na profundidade dos sentimentos
para depois ter as rédeas das situações. O co- dependente que não busca ajuda
continuará a cometer os mesmo erros trazendo para o seu viver grande
empobrecimento existencial.