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sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Freud não é o pai da Psicologia: a diferença na formação do Psicólogo, do Psicanalista e do Psiquiatra.




  O saber psicológico sempre esteve presente no interesse do homem no que diz respeito ao desejo em saber mais de si, mais da “alma”, mais do algo interno, e que buscamos na ciência a explicação para alguns conceitos tão inerentes à própria existência humana.
  A Psicologia enquanto ciência se faz da união entre a fisiologia (funcionamento do organismo – o biológico) e a filosofia (o saber que se preocupa com o pensamento – a metafísica significando, para além da física; da matéria).
  Os primeiros estudos a respeito do psiquismo data desde o século V a.c. com Platão, Aristóteles e outros sábios gregos, que se atinham em questões como a memória, a aprendizagem, a motivação, a percepção, a atividade onírica e o comportamento anormal.
  A característica essencial que começou a culminar em algo parecido com o que entendemos hoje, como sendo a Psicologia ocorreu quando houve a mudança no método de estudo dos fenômenos mentais datando o último quarto do século XIX. Vê- se vestígios disto quando a abordagem e as técnicas usadas se tornaram essencialmente científicas, estruturadas à base das ciências físicas e biológicas, fazendo com que a Psicologia da época, fosse diferenciada em uma ciência única, e não mais como um ramo da filosofia.
  Foi então que, em dezembro de 1879, em Leipzig na Alemanha, o fisiólogo Wilhelm Wundt implantou o primeiro laboratório de Psicologia do mundo. Em 1881, fundou a revista “Philosophísche Studien”, considerada a primeira revista de psicologia dedicada primordialmente a relatos experimentais.

 Enquanto isso, em meados de 1882 e 1885 o neurologista Sigmund Freud começou sua observação a respeito de quadros histéricos juntamente com o também médico, Josef Breuer. O que intrigou inicialmente Freud foi que após seu envolvimento com estudos de Charcot sobre a hipnose, percebeu que conseguiria realizar um trabalho de cura com pacientes enfermos, eles estando sob a posse da consciência, e não precisando utilizar – se das técnicas hipnóticas.
  Percebeu que a cura pela palavra era possível. Para ele foi uma grande providência estudar este universo antes nunca explorado na área médica.
  Descobriu que imperava um lugar obscuro da alma humana, algo que não estava disposto na consciência, mas que esta era uma via de acesso a este universo sombrio. Atentou que este lugar podia ser trazido às esferas mais superficiais (consciência) com o tratamento psicoanalítico (análise da psiquê, da mente).
  Surgiu então um novo saber, algo que estava prestes, segundo ele mesmo acreditava, uma ciência revolucionária, algo inexplorado e mágico a respeito da mente humana para além da física.
  
  A diferença primordial entre Psicologia e Psicanálise é que a Psicologia, enquanto Ciência e Profissão, tal como consta no juramento do formando em Psicologia, e regida a partir de um conselho científico, necessita de argumentos que sustentem o metafísico.
  Para a Psicologia há que se explorar algo palpável e visível tal como os comportamentos; já para a Psicanálise o que interessa é o desejo do sujeito.
  Desde os primórdios da Psicanálise, seu fundador e idealizador, Sigmund Freud visava este saber a todos aqueles que mantêm um interesse por ela, não estreitando- a somente aos médicos ou Psicólogos. Sua grande tendência era o saber repassado não só aos especialistas, mas também aos leigos como cita em sua conferência em 1909, a Clark University, Worcester, Massachusetts.
  Seu propósito era de separar a Psicanálise de outros saberes científicos e fazer dos psicanalistas todos aqueles que mantêm um interesse pela formação, não se inclinando a área acadêmica.
  Logo, o desejo de Freud foi construído e praticado, e o que temos hoje é um saber comum a todos. Ou seja, um formado em Letras ou em Biologia, poderá iniciar a Formação em uma escola de Psicanálise, sendo assim nomeado psicanalista.
  A grande confusão, se é que posso assim dizer, é que muitas vezes são indiscriminados alguns nomes e títulos a algumas formações distintas. São elas:
  O Psicólogo não necessariamente é um psicanalista, mas estuda Psicanálise dentro da faculdade de Psicologia, mesmo sendo a Psicanálise um saber avulso à Psicologia.
A formação do Psicólogo é estruturada por uma faculdade tanto prática quanto teórica que percorre uma duração de cinco anos (4 anos bacharelado- formação do Psicologista; mais um ano para obter a licenciatura- formação do Psicólogo).
  Dentre as áreas possíveis de teorização e atuação do psicólogo estão a Clínica e a Instituição (como hospital psiquiátrico, hospital médico, Tribunal de Justiça, Polícias Civil, Federal e Militar, CREAS e CRAS, entre outras).
  As três principais abordagens teóricas da Psicologia formam a tríade psicológica: 1- Psicanálise; 2- Comportamental; 2- Humanismo.
  A Psicanálise aborda o “grande buraco negro”, o inconsciente. É um método terapêutico cujo objetivo é a interpretação de conteúdos inconscientes que podem vir à tona através de sonhos, palavras, ações e produções imaginárias. A técnica utilizada está pautada na associação livre e na transferência.
O comportamentalismo aborda a gênese do ser humano como sendo uma tábula rasa, em que o processo de aprendizagem é imperativo para sua constituição. A modificação dos comportamentos não desejados são banidos com técnicas próprias desta subárea da Psicologia. A observação externa é levada em conta, inclusive a influência do meio no processo de aprendizagem dos comportamentos.
  O Humanismo vê o ser humano como o ser que detém a responsabilidade de si e de suas ações, não sendo ele controlado pelo ambiente, nem pelas condições impostas. A consciência de suas escolhas e atitudes é o que faz da teoria humanista ter como base principal a epistemologia e a fenomenologia.
  Se o psicólogo após sua formação não quiser se especializar em nenhuma destas subáreas, terá como seu título Psicólogo Clínico, onde poderá atuar com uma destas abordagens ou nenhuma, se fazendo utilizar apenas da Psicologia Clínica tanto no consultório quanto em instituições.
  Uma parcela da população não se atenta pela diferença entre a atuação do psicólogo e do psiquiatra. O psiquiatra não necessariamente é um psicanalista, a não ser que ele obtenha a formação para isto. Além de sua formação médica e de sua especialização em psiquiatria, deverá ter formação em uma Escola de Psicanálise para obter a denominação de psicanalista.
  O psicólogo não é um psiquiatra, nem um psiquiatra é um psicólogo, a não ser que tenham as duas formações (Psicologia e Medicina com especialização em psiquiatria).
  O psiquiatra é um médico, poderá prescrever um tratamento diferente da Psicologia.  A inserção de medicamentos está sob a atuação dele, não sendo o mesmo foco do Psicólogo, cuja cura advém pela palavra e não pelo medicamento.
  Uma questão interessante é “quem pode ser atendido pelo psicólogo?” A resposta é todos que desejam o aprimoramento de si e consciência da vida. Não necessariamente a Psicologia serve somente para casos de psicopatologia (transtornos da mente como a Depressão, o Transtorno de Humor Bipolar, Transtorno de Personalidade Borderline), mas também as pessoas ditas por Freud como Neuróticas, que psicanaliticamente falando, equivalem ao sujeito “normal”.
  Não costumo falar o termo autoconhecimento, até porque penso que todos nós sabemos ou pelo menos intuímos quem somos, mas em que diversas fases de nossas vidas não mantêm por diversas razões, a consciência (de significado maior desta palavrinha).
  Tanto a Psicologia quanto a Psicanálise tratam de questões relacionadas ao encontro, ou melhor, o re- encontro de si. Muitos traumas, e angústias podem ser cuidados na clínica tanto do analista quanto do psicólogo clínico, só que, por abordagens diferentes e se utilizando de técnicas às vezes, diferenciadas.


 Referências e algumas sugestões para estudo:
SCHULTZ, Duane P., SCHULTZ, Sydney E. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005.
ODAIR, Furtado; BOCK, Ana Mercês Bahia; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. As Psicologias  - Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. São Paulo: Ed. Saraiva 13ª.ed , 1999- 2001.
Cinco lições de Psicanálise (1910 (1909)).  Obras completas Sigmund Freud Vol. XI.

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