Deitado na cama dos pais, o bebê Pedro parece indiferente às tentativas dos parentes de chamar sua atenção. Observa as almofadas e outros objetos do quarto e não fixa os olhos em nenhum dos rostos sorridentes ao seu redor. Aos poucos, as brincadeiras da mãe transformam-se em pedidos angustiados de atenção, mas ele continua aparentemente surdo aos apelos. A cena de poucos minutos é de um vídeo caseiro, parte do material de pesquisa do neuropsiquiatra Fillipo Muratori, da Universidade de Pisa. Ao analisarem o comportamento do menino, diagnosticado anos depois com autismo, e de outras crianças em gravações caseiras, Muratori e sua equipe mostraram que os sintomas do transtorno do desenvolvimento surgem desde cedo.
A estimativa é que uma em cada 88 crianças tem o transtorno do espectro autista (TEA), segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDCs, na sigla em inglês). O termo “espectro” significa que há vários graus do distúrbio, mas todos compreendem, em menor ou maior intensidade, os seguintes sintomas: profunda ausência de habilidades sociais, baixa capacidade de comunicação e comportamentos repetitivos, apatia, aparente surdez, ausência de expressões faciais de afeto. Independentemente da gravidade da manifestação, há problemas de interação social.
Humanos têm disposição inata para relacionamentos e comunicação: somos sensíveis às expressões faciais, reagimos a elas. Nas crianças autistas, no entanto, algo falha nesse contato inicial. Para a psicanálise, os sintomas podem se manifestar como um refúgio defensivo, desencadeado por experiências emocionais traumáticas. O psicanalista Alfredo Jerusalinsky, especialista em autismo, considera que o transtorno é uma interação entre causas neurobiológicas e experiências traumático-psicológicas nas relações primordiais entre mãe e bebê. Em outras palavras, a manifestação inicial de algum sintoma de origem orgânica afasta o bebê do ideal dos pais. Se desistem de estimular a criança, o quadro se agrava.
A boa notícia é que as chances de melhora dos sintomas são significativas quando o diagnóstico é feito até os primeiros dois anos de vida. Nesta fase, considerada por muitos especialistas em desenvolvimento infantil um divisor de águas, ocorre uma mudança considerável nas habilidades de intuição social e na aquisição de linguagem. Psicanalistas especializados em crianças e adolescentes têm estudado formas de estimular o autista de forma adequada. Estudos recentes têm mostrado que abordagens que utilizam o “manhês” – linguagem caracterizada por entonações de voz e ritmos específicos que adultos usam instintivamente ao se dirigir aos filhos pequenos – e expressões faciais exageradas podem ser eficazes para tentar inserir a criança no universo da expressão verbal.
Mesmo em casos em que os sintomas são mais intensos, possivelmente associados a causas neurobiológicas, o atendimento psicanalítico precoce e contínuo pode contribuir para o desenvolvimento psíquico – o profissional pode ajudar os pais a entender o transtorno, apontando caminhos para lidarem com as culpas, frustração das expectativas, angústias e dores. Enfim, mostrar-lhes a real possibilidade de se tornarem aliados no desenvolvimento da criança.
- Usa as pessoas como ferramenta, isto é, aponta objetos para que as pessoas peguem para eles sem manifestarem esforço para faze-lo.
- Resiste a mudanças de rotina.
- Isola-se e não se mistura a outras crianças.
- Não mantêm contato visual com outra pessoa.
- Age como se fosse surdo, não atendendo a chamados.
- Resiste ao aprendizado.
- Apresenta apego a determinados objetos.
- Não apresenta medo de perigos.
- Gira objetos de maneira estranho e peculiar.
- Apresenta risos e movimentos com relação a nada.
- Resiste extremamente ao contato físico.
- Acentuada hiperatividade física.
- Às vezes torna-se agressivo, destrói objetos, ataca e fere pessoas aparentemente sem motivo.
- Apresenta certos gestos imotivados como balançar as mãos ou ficar balançando-se.
- Apresenta comportamento indiferente e arredio.
- Cheira ou lambe os brinquedos.
Fontes: Mente e Cérebro e Fio Cruz ( http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/autismo.htm )
Trabalho com adultos autistas, eles são muito inteligentes.
ResponderExcluirÉ um mundo diferente, mas atraente.
Riquíssimo, cara Jaqueline! As crianças mais ainda porque podem ter grandes benefícios quando diagnosticadas brevemente.
ExcluirObrigada pela visita e pelo comentário!
Há um menino na instituição onde trabalho que se fosse investido e trabalhado seria uma grandiosidade e um bem à humanidade. Mas infelizmente, além de nossa instituição está desprovida de estrutura para auxiliar no desenvolvimento dele, sua família é carente e ignora sua inteligência e seu potencial. Lamentável!
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